Gestão

Cadeia de Valor e Empreendedorismo Contábil: Entrevista com Vicente Sevilha

Juliana Spitaliere Juliana Spitaliere | Atualizado em: 26/03/2024 | 15 mins de leitura | ← voltar

Cadeia de valor, empreendedorismo contábil e a revolução da tecnologia na área. Tire todas as suas dúvidas sobre a nova era da contabilidade.

Cadeia de valor, empreendedorismo contábil, o novo papel do contador e a revolução da tecnologia na área.

Esses assuntos são temas recorrentes de preocupação e dúvida dos contadores.

Você se identifica com essas inquietações? Também está um pouco desnorteado com a velocidade das mudanças na contabilidade?

Para ajudar um pouquinho nesse novo momento do setor contábil, a Conta Azul conversou com Vicente Sevilha na conferência Conta Azul [CON] 2018, que reuniu grandes nomes da contabilidade para o compartilhamento de ideias, insights e tendências da área.

Com 30 anos de experiência no mercado, ele é fundador da rede de franquias Sevilha Contabilidade, que presta assessoria contábil desde 1987.

Durante o bate-papo, foram abordados os principais dilemas e desafios da nova contabilidade.

Como você sabe, a evolução da tecnologia alterou o papel do contador, que ganha cada vez mais uma função estratégica na sua relação com o cliente.

Hoje é primordial que o profissional de contabilidade tenha uma visão mais ampla, que vá além do operacional e se concentre em oferecer uma plataforma de apoio para que as empresas possam crescer mais e melhor.

É a partir dessa visão, apoiada na tecnologia, que o contador pode avaliar a sua relação com o cliente, aprimorar seus processos rotineiros e, quem sabe, até mesmo abrir a própria empresa.

Neste artigo, reunimos insights e dicas de Vicente Sevilha sobre os seguintes tópicos:

O que é cadeia de valor

A cadeia de valor é um conjunto de ferramentas que focam na criação de valor para os clientes da empresa.

Trata-se de um modelo criado por Michael Porter, professor renomado da Harvard Business School e fundador da empresa de consultoria do Monitor Group.

O modelo de Porter serve como guia para que as empresas examinem as suas etapas produtivas e avaliem a eficiência da conexão entre essas atividades.

O objetivo é otimizar a cadeia em cada etapa, levando o cliente a ter percepção de valor sobre o que a empresa entrega a ele.

Quanto maior valor o cliente enxerga, mais o negócio tem vantagem competitiva sobre os concorrentes, assim como consegue vender e, consequentemente, lucrar mais.

A cadeia de valor segue a lógica de que é preciso potencializar todas as etapas de produção que são importantes para gerar valor no produto ou serviço.

Por outro lado, pressupõe a reestruturação ou, em alguns casos, o corte de processos que não agregam valor no fim da produção.

Uma das vantagens é a redução de desperdícios de dinheiro, recursos humanos e tempo de produção.

No livro Competitive advantage (Editora Free Pass), Michael Porter afirma que a cadeia de valor é um dos princípios da vantagem competitiva das empresas.

Segundo ele, a cadeia de valor desagrega uma empresa em suas atividades estrategicamente relevantes para entender o comportamento dos custos e as possíveis fontes de diferenciação existentes.

“Uma empresa obtém vantagem competitiva ao realizar essas atividades estrategicamente importantes de forma mais barata ou melhor que seus concorrentes”, afirma Porter.

De modo geral, a cadeia de valor oferece os seguintes benefícios para a empresa:

Cadeia de valor em escritórios contábeis

Em um escritório contábil, a análise da cadeia de valor é essencial.

Afinal, muitas vezes, o trabalho do contador é percebido pelo cliente como uma função destinada unicamente a cumprir a legislação e evitar problemas.

Mas essa visão está mudando: hoje as empresas esperam do contador um papel estratégico e de apoio ao negócio. E isso, sim, agrega valor.

Então, em uma empresa contábil, é preciso avaliar quais processos da empresa o cliente considera como valiosos para ele próprio e para o negócio.

Sevilha dá um exemplo de como isso se aplica na prática.

Considere, segundo ele, que o contador esteja preparando o eSocial do cliente.

Pode ser que ele tenha uma técnica excelente para essa atividade. Por isso, ele mede o valor conforme o esforço que dedica na tarefa.

Mas será que o cliente enxerga esse esforço da mesma forma?

Para Sevilha, o cliente faz uma análise diferente: ele verifica se está vendendo mais ou obtendo mais lucro ou até mesmo se consegue uma melhor penetração no mercado, e não o método utilizado para o contador.

Em outras palavras: esse processo no dia a dia do contador não está, de fato, gerando valor e resultados para o cliente.

Percebe a diferença?

O ponto-chave é identificar quais atividades na cadeia de valor estão fazendo com que o cliente perceba o seu trabalho como agregador de valor.

“A estratégia seria focar mais energia nisso e menos energia no resto”, aconselha Sevilha.

Essa visão abre espaço para uma análise essencialmente estratégica da atividade do contador:

  • De que maneira você pode entregar um serviço de valor para o cliente?
  • Quais processos na empresa podem ser otimizados para gerar resultados ao cliente?
  • O que é atividade meramente operacional e o que é atividade estratégica?

Fazer esse tipo de pergunta é essencial para a nova gestão da empresa de contabilidade.

Empreendedorismo contábil

O mercado da contabilidade também abre espaço para o empreendedorismo.

“O primeiro fator é entender se você quer atuar como contador ou empresário”, diz Sevilha.

Uma avaliação sincera é crucial antes de dar os primeiros passos na criação de uma empresa.

Enquanto o contador que trabalha como funcionário tem dedicação maior às atividades rotineiras, o empreendedor deve cuidar de todos os aspectos do negócio.

“O empresário não pode cometer o erro de se comportar como contador. O empresário tem a vocação de contador, mas precisa cuidar da estratégia do negócio”, pontua Sevilha.

Isso significa lidar com questões diversas, como, por exemplo:

  • Engajamento da equipe
  • Estratégias de crescimento
  • Liderança
  • Oferta de valor ao cliente
  • Divulgação do negócio
  • Análise financeira e contábil
  • Modelos de gestão
  • Qualidade dos processos
  • E tudo que estiver relacionado à criação e gestão de uma empresa.

Um erro comum em empresas de contabilidade é a falta de atenção aos próprios aspectos contábeis do negócio.

Nem sempre o empresário e contador aplica, na prática, aquilo que orienta aos clientes, o que se torna prejudicial ao negócio.

No entanto, como você sabe, o descumprimento de normas legais para escritórios de contabilidade pode levar a empresa ao fracasso, além de diminuir sua credibilidade.

Portanto, antes de abrir um negócio no segmento, é preciso planejar todas essas questões.

Tendências do empreendedorismo contábil

Confira três tendências do empreendedorismo contábil que estão presentes nas empresas de sucesso:

1. Contabilidade estratégica

O trabalho do contador, como você verá adiante, não é mais voltado a burocracias. Hoje esse profissional atua como um parceiro estratégico dos negócios, com foco total no cliente.

A tendência é que cada vez mais o contador se dedique a acompanhar a situação da empresa do cliente, a partir da análise dados e da avaliação de performance.

Com isso, ele inclui novas atividades à rotina: consultoria e reuniões periódicas com clientes.

2. Contabilidade digital

Embora seja um conceito novo no Brasil, é bom estar atento à contabilidade digital.

A atividade do contador migra completamente para o ambiente digital, tendo sua rotina de trabalho otimizada por meio de ferramentas em sistemas online.

Isso inclui armazenamento de informações em nuvem, sistemas que integram dados do cliente à plataforma do contador, evitam retrabalho e tornam a colaboração quase instantânea.

3. Automatização de processos

Aos poucos, você pode dizer adeus a tarefas burocráticas e repetitivas que fazem parte do seu dia a dia.

A automatização de processos por meio de sistemas de gestão já faz parte dos escritórios de contabilidade e abre espaço para que o contador atue como uma peça importante para a estratégia dos negócios (justamente a contabilidade estratégica de que falávamos antes).

Franquias de contabilidade

Uma ótima opção para quem pensa em abrir um negócio, mas não tem experiência com gestão, é abrir uma franquia de contabilidade.

De acordo com Sevilha, é justamente na direção de grandes redes de empresas que o movimento de consolidação do mercado contábil ocorre.

E as franquias estão incluídas nessas grandes redes.

Portanto, a probabilidade é de que elas assumam a maior parcela do mercado nos próximos dez anos, segundo o especialista.

Mas por que investir em uma franquia ao invés de começar uma empresa do zero?

Você pode, é claro, montar um negócio desde o início para controlar todos os seus aspectos.

Mas no modelo de franquia, você não deixa de ter autonomia como empresário  — a empresa ainda será sua.

A principal vantagem é que, nesse caso, você segue um processo já estabelecido e confiável, além de utilizar uma marca conhecida no mercado.

“O franqueado fica livre para pensar na operação, porque ele já a recebe bem desenvolvida e pode focar no atendimento ao cliente”, salienta Sevilha.

Segundo o especialista, esse modelo de consolidação é inevitável devido a três forças externas:

  • O cliente não é mais fiel ao contador, e sim à entrega do serviço
  • A regulamentação do mercado contábil é cada vez mais complexa, portanto, o empresário sozinho tem mais dificuldade de cumprir
  • As estratégias de aproximação de clientes consomem muito tempo do contador.

Vantagens de abrir uma franquia

Sevilha já apontou que investir em uma franquia de contabilidade pode ser um negócio acertado na área.Agora, conheça cinco vantagens de apostar nesse tipo de empreendimento:

1. Modelo de gestão estabelecido

Conforme o próprio Sevilha afirma, o franqueado segue processos confiáveis, uma vez que já foram colocados à prova e alcançaram êxito.

Isso dá mais segurança ao empresário, que segue um modelo pré-estabelecido e não precisa dedicar todo seu tempo a criar um novo modelo de gestão.

2. Menos riscos

Como o modelo de negócio já foi testado no mercado, uma franquia sempre oferece menos riscos para o empreendedor do que se ele estivesse criando uma empresa própria.

Ao adquirir uma franquia, o empresário já inicia com informações importantes em mente: perfil do cliente, modelo de expansão e processos bem estabelecidos.

3. Credibilidade

Uma das principais vantagens é que, desde o início, você aproveita a vantagem competitiva da marca e a credibilidade que ela tem perante o cliente.

Ao contrário disso, se começasse uma empresa independente, você precisaria trilhar um longo caminho para conquistar seu lugar no mercado.

4. Apoio do franqueador

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o franqueado recebe orientação, treinamento e apoio do franqueador nos diferentes aspectos do negócio, uma vez que ele preza pela marca.

Em empresas de contabilidade, isso também é importante para manter o negócio dentro dos parâmetros legais.

Nesse caso, o empreendedor tem o apoio do franqueador para cumprir todas as normas previstas, como diz Sevilha.

5. Plano de negócios

O Sebrae também aponta que, uma vez que a franquia já possui plano de negócio, o empresário pode instalar e expandir a empresa com menos riscos financeiros.

Isso porque o plano de negócios já prevê fatores sociais e econômicos que poderiam interferir nos resultados do negócio.

Portanto, se você tem desejo de ser um empreendedor, antes de iniciar essa jornada, pondere qual tipo de empresa é mais adequada à sua necessidade.

Claro que a franquia envolve menos riscos, mas nada impede que você abra um negócio do jeito que imaginou e crie uma nova marca.

Nesse caso, tenha cuidado redobrado com o plano de negócios, os processos da empresa e a inserção no mercado.

Automação de processos e o novo papel do contador

Certo, agora você já tem um panorama do mercado e do empreendedorismo na área.

Mas e quanto ao novo papel do contador?

Sim, com a tecnologia, o trabalho do contador não é mais centrado em atividades operacionais, como cobrar notas fiscais ou registrar dados em planilhas.

Esse tipo de tarefa não gera tanta percepção de valor para o cliente e pode ser automatizada.

Por isso, o novo papel do profissional contábil é, sobretudo, estratégico: ele atua como um parceiro do cliente.

Isso tem tudo a ver com a automação de processos: muito do que antes exigia tempo e trabalho repetitivo do contador hoje é feito por meio de sistemas de gestão.

Então, as tarefas manuais são assumidas pela automação, enquanto o contador ganha tempo para se dedicar a um trabalho mais complexo, que inclui análise de dados, consultoria com clientes e assessoria para expansão e avaliação de riscos do negócio.

E isso, sim, gera uma percepção nítida de valor.

É por isso que Sevilha considera a automação como algo que liberta o contador para fazer mais pelo cliente.

Para ilustrar a relação entre contador e automação de processos, Sevilha dá outro exemplo: a folha de pagamento.

Hoje em dia, há sistemas de gestão que fazem isso de forma automatizada, de modo que o contador não precisa mais realizar o trabalho manualmente.

Será que isso o torna um profissional dispensável? Claro que não.

Sem ter que fazer a folha de pagamento, ele pode focar sua atenção à análise desses dados, avaliando a situação do negócio e oferecendo uma consultoria ao cliente.

Motivos para automatizar processos na contabilidade

Como você pode ver, Sevilha deixa bem claro que a automatização de processos é o futuro da contabilidade. Confira mais quatro motivos para aderir a ela:

1. Não ficar ultrapassado

Se a automatização de processos é uma tendência, você não pode ficar de fora, certo?

O próprio Sevilha aconselha que olhar mais para fora do negócio e saber o que está acontecendo no mercado é essencial para não ficar para trás.

Dessa forma, a empresa permanece sempre atualizada, já que o mercado será cada vez mais competitivo.

2. Redução de erros e retrabalho

Um dos problemas do trabalho manual do contador é que ele fica suscetível a erros, já que a atividade é repetitiva e requer muita concentração.

Quando um erro acontece, é preciso fazer tudo de novo para corrigir.

E o tempo dedicado ao retrabalho poderia ser alocado para captar novos clientes e encantar os atuais.

3. Ganho de produtividade

Imagine quanto tempo de trabalho dos contadores da empresa é reduzido com a automação de processos.

Isso representa um ganho de produtividade importante, já que esses mesmos profissionais podem se dedicar a tarefas que realmente trazem resultado para a empresa, como a aquisição de clientes, por exemplo.

4. Segurança das informações

Quando você automatiza processos, todos os dados importantes do cliente são transferidos para um sistema online criptografado e, portanto, totalmente seguro.

A probabilidade de perder informações importantes devido a problemas em um computador, por exemplo, é nula (sem contar que você consegue acessar os documentos em tempo real devido ao armazenamento em nuvem).

Com todos esses benefícios, a satisfação do cliente aumenta, assim como os resultados e lucros da sua empresa contábil.

Se você está buscando a automatização de processos e uma contabilidade em tempo real, conheça a Conta Azul Mais, uma plataforma inédita no mercado brasileiro e que eleva o trabalho do contador a um novo patamar.

O sistema organiza os dados do cliente e conecta o contador, em tempo real, com todo o ecossistema financeiro, além de automatizar a troca de informações contábeis.

Agora, confira o bate-papo completo com Vicente Sevilha:

Gostou deste conteúdo? Então, compartilhe nas suas redes sociais. Quer mais conteúdos como esse? Participe da Conta Azul [CON] 2019!

Leia também